Eras tão indefeso quando te vi pela primeira vez, em cima daquele telhado! Eras um gatinho lindo e maravilhoso, cheio de medo deste mundo. Todos os dias subia a um escadote para te deixar comida e tentar aproximar-me de ti e mostrar-te que não te iria fazer mal. Foste crescendo e já descias do telhado e andavas por lá, de telhado em telhado sempre a ver o que se passava em teu redor. De noite já ias a minha casa quando todos estivessem a dormir roubar a comida dos meus gatos. Começas-te te a aproximar. Eu chegava a casa e lá estavas tu à minha espera e quando me vias só miavas e dançavas. Enrolavas-te nas minhas pernas à medida que eu fosse a andar mas quando me baixava para te poder tocar tu fugias. Uma coisa de cada vez. À medida que o tempo passava foste-te tornando mais presente. Ainda me lembro de quando ia ao café à noite a pé e tu ias comigo e esperavas que eu fosse para casa. Fizesse chuva ou frio estavas sempre lá. E aquelas vezes que eu tinha medo que viesses para a estrada e que eu punha-me a correr para não veres para onde eu ia? Pois era, encontravas-me sempre e depois lá ia eu a voltar outra vez para casa para tu ires comigo e esperar uma altura em que estivesses entretido para eu sair outra vez. Eras um gato grande, lindo e cheio de vida. E quando te metias à porta do vizinho para te dar queijo e fiambre ah ah ah lembro-me tão bem. Contigo estava sempre com um sorriso, os dias maus pareciam muito melhores quando te via. Enfim... Mas os humanos não são todos bons e nem todos têm boas intenções. Apareces-te depois de estares desaparecido dois dias, meio deformado, porque te tinham batido. Ficas-te sempre em minha casa lá no tapete da entrada da cozinha a dormir, punha lá leite com fortificante e dava-te o antibiótico. Mas foi tudo em vão. Foi nos poucos dias que permaneces-te na minha casa que me mostras-te que estavas agradecido por tudo o que fiz por ti, pelas subidas ao escadote a meio da noite quando eras pequeno para não passares fome, pelas horas à chuva debaixo de um chapéu em cima do telhado para não te molhares. Valorizas-te tudo isso. Nos teus poucos dias de vida mostras-te que confiavas em mim, dava-te festas e ainda ganhavas forças para ronronar, feliz por estar a receber carinhos para esqueceres um pouco a dor. E de um momento para o outro, lá estava o teu corpinho, ainda quente, parado. Tinhas ido para um sitio melhor e já não tinhas dores. Não sabes um quanto me custou. O meu coração quebrou, parou completamente, ficou meio vazio. Só me resta as lágrimas. Só me resta a saudade. Só me resta as recordações.
"Pantufinha está na hora de irmos ao café"
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